25 de abril de 2016

Intervenção do Representante do PS na sessão solene do 25 de Abril em Marvão


Intervenção do Representante do Partido Socialista na sessão solene do 25 de Abril em Marvão:
"Ex.mos Senhores e Senhoras,
Comemoramos hoje a Revolução de Abril e é com grande honra e alegria que estou aqui, hoje, dirigindo-me a vós, em nome dos cidadãos eleitos na lista do Partido Socialista nas últimas eleições autárquicas.
Celebramos esta data há 42 anos, a idade da Democracia em Portugal. Numa feliz coincidência, esta tem a mesma idade que eu, nascido e registado em Santo António das Areias, uns meses antes desse Abril luminoso de 74.
Nestes 42 anos aconteceram muitas mudanças, o mundo que conhecemos, deu algumas reviravoltas, Portugal, a nossa terra e, claro, nós próprios, tudo acompanhou esse movimento.
À vista de hoje, o ano de 1974 está muito distante. Porém, os acontecimentos políticos que ocorreram então, deixaram marcas profundas na vida de todos os portugueses, perduraram até hoje. Alteraram-se as rotinas do quotidiano, alterou-se a maneira das pessoas se relacionarem, alterou-se o funcionamento das instituições. Com Abril uma nova ordem de valores assumiu protagonismo, face a um regime que estava esgotado e ultrapassado. Projectou-se uma sociedade mais solidária, justa e esclarecida. As oportunidades deixaram de ser exclusivas das elites e, pelo menos em teoria, passaram a estar ao alcance de qualquer cidadão através do esforço, do mérito e da partilha.
A minha geração nasceu nestes anos de mudanças profundas e, ao contrário das gerações anteriores não sentiu o sufoco de ter a opinião controlada por um sistema autoritário e uma sociedade fechada. Não precisámos de lutar pelo direito de poder expressar opiniões livremente, pelo direito de reclamar por uma dignidade autêntica. Nestes aspectos, somos meninos de copinho de leite, em comparação com as gerações anteriores, como a do Dr. Canêdo Berenguel, que nas comemorações do ano passado aqui recordou, com o seu discurso emocionado, as lutas que travou contra as atrocidades do regime político anterior. Os nossos avós, pais e irmãos mais velhos assumiram esse desafio e venceram-no. Nós, hoje, devemos-lhes uma imensa gratidão.
Para que hoje possamos afirmar esta realidade, muitos foram os homens e mulheres que antes e depois do 25 de Abril assumiram a luta pela liberdade de pensamento e pela afirmação de uma sociedade baseada nos valores da justiça e da solidariedade. Marvão foi ponto de passagem e porto de abrigo de alguns destes corajosos combatentes. No ano que passou deixou-nos o Arquitecto Nuno Teotónio Pereira, um homem com letra maiúscula, um criador e um pedagogo de referência, que tinha por Marvão um amor genuíno e filial. As ideias progressistas e a acção do Arquitecto Nuno Teotónio Pereira contagiaram muita gente no nosso concelho e ainda hoje são uma inspiração para aqueles que não desistem de intervir na nossa comunidade.
A ele, à sua generosidade e ao seu espírito combativo e solidário, o Partido Socialista deve um enorme reconhecimento.
Nestas quatro décadas, o mundo evoluiu imenso e hoje dispomos de inúmeros conhecimentos e facilidades que não dispúnhamos à data do 25 de Abril. A ciência e a técnica conduziram-nos para além dos limites da própria ficção científica; o trabalho simplificou-se; o ambiente e a cultura foram reconhecidos como factores essenciais ao enriquecimento e sustentabilidade das sociedades; os estados procuraram soltar-se da má consciência acumulada nas últimas décadas e os flagelos da humanidade, a guerra, a fome e a tirania, passaram a fazer parte das agendas das elites dirigentes.
Neste contexto, Portugal foi consolidando a sua democracia, baseada num sistema político moderno, assente nos partidos e no voto universal dos cidadãos.
As novas realidades e os estímulos internacionais representaram novos desafios mas também acarretaram dificuldades, e ao longo dos últimos anos assistimos ao aumento das assimetrias entre o interior e o litoral, até a um nível de desequilíbrio social e geográfico que hoje todos reconhecem como altamente preocupante.
O Concelho de Marvão participou destas mudanças e tornou-se um concelho com níveis de desenvolvimento social avançados, a par do país modernizado. Nos últimos quarenta anos passámos de valores baixos de escolaridade e assistência médica, reduzidos indicadores de conforto como a cobertura das localidades por água canalizada, electricidade, esgotos, ou estradas, para indicadores de desenvolvimento que não perdem por comparação com outras regiões que imaginamos mais desenvolvidas.
Porém, no sentido do que atrás afirmámos, esta evolução foi acompanhada por um enorme declínio populacional. O Concelho perdeu cerca de 5000 habitantes nestes 42 anos. As condições de subsistência em Marvão desde os anos 70 alteraram-se drasticamente. Assistimos a uma forte diminuição do emprego em funções públicas, com o encerramento ou a redução significativa da actividade de alguns serviços. As principais unidades industriais e comerciais foram acumulando problemas de subsistência económica até acabarem insolventes, com um prejuízo incalculável em termos de postos de trabalho directos e indirectos. A agricultura, talvez tenha sido o sector menos afectado pela evolução das últimas décadas, devido à escala reduzida que sempre caracterizou esta actividade no Concelho, que raramente ultrapassou uma estrita forma de subsistência.
Este panorama cinzento é contrariado pelo Turismo, um sector de negócios que viu o mercado crescer exponencialmente nos últimos anos, com um grande aumento da procura de Marvão por turistas de todas as partes do mundo. Este fenómeno permitiu o aparecimento de novos empreendimentos e a criação de um número considerável de postos de trabalho.
Apesar da dureza deste cenário, temos muitas razões para sentirmos um enorme orgulho na nossa terra. Para lá do reconhecimento que merecem as condições naturais únicas do nosso território, temos um património de referência, edificado e imaterial, que é grandioso e coloca Marvão no centro do mundo ocidental. O nosso concelho possui vestígios relevantes de uma intensa presença humana em todos os períodos históricos, desde o megalítico. Aqui se defendeu o Reino de Portugal contra a cobiça de castelhanos e dos franceses, aqui se descobriu a vocação de grandes estadistas. A tradição e a identidade desta terra, estão presentes na música tradicional, no teatro, na literatura, exemplos da nossa herança e da nossa sensibilidade.
A população de Marvão sempre soube encontrar esperança nas adversidades. Esta é a sua maior riqueza. Em comunidade enfrentam-se as dificuldades com mais determinação e os sucessos são melhor celebrados. Este sempre foi o espírito, a crença, das gentes de Marvão. A humildade e a reserva são características que nos assentam bem, mas quando o baile se arma no átrio somos os melhores bailadores e tocadores da região.
Atravessamos um período de crise muito complicado em que o mundo sofreu ondas de sobressalto que abalaram as suas estruturas financeiras. Durante os últimos anos, sentimos no bolso a fragilidade do nosso Estado, a sua dependência dos poderes externos, que não são controlados pelo nosso voto. As eleições do último ano proporcionaram uma nova situação politica, que resultou do compromisso dos partidos de esquerda. Congratulamo-nos com a solução adoptada e estamos certos que o Governo PS conduzirá nos próximos tempos, os destinos do nosso país, com a confiança dos grandes condutores de longo curso.
Cabe aos políticos fazer a leitura correta da sociedade para assegurar a gestão mais eficaz dos recursos colectivos e o benefício das populações. Este discurso deveria ter começado por aqui. Quando comecei a escrever estas palavras a minha intenção era fazer uma análise da situação actual do concelho e enumerar as opções politicas que o Partido Socialista defende como essenciais ao desenvolvimento sustentado da nossa terra.
Haveria de referir-me a algumas situações concretas, que não seriam difíceis de identificar, nas quais é evidente a necessidade de alterar o rumo da governação municipal, porque se estão a desperdiçar recursos escassos ou porque se está a manchar o nome e e o prestígio de Marvão. Teria muita coisa para dizer e talvez fossem temas de maior utilidade que despertariam melhor o vosso interesse.
Porém, nestas circunstâncias, não encontraria o tom adequado. Por isso deixo estas discussões para outros momentos, noutros locais mais apropriados.
Porque hoje é dia de festa. Viva Marvão. Viva a Liberdade.
Disse."
Jaime Miranda, Vereador do Partido Socialista
Marvão, 25 de Abril de 2016